sábado, 7 de novembro de 2009

Sobre capitalismo

Esse poema que vos apresento, escrevi em 2004, vocabulário bem simples, nada difícil de entender. Demonstra o repúdio que sempre tive em relação às desigualdades sociais do nosso país.
O sonho continua vivo dentro de mim.


Sobre capitalismo

Parece que é uma simulação
Tudo tão repentino
E tão instável
Que até parece diversão

É de dar nojo
A rapidez na qual
Muda-se o sentido
Os sentimentos e a razão

Ciranda cirandinha
Vamos todos se danar
Observando o horizonte
Como um cão frente ao mar

Do Império viestes
Ao Império retornarás
Não é bem assim o ditado
Mas este também vem a calhar

Competimos com o mundo
Para podermos existir
Porém isso não basta
Também iremos agredir

Sinuosas invenções
Que usamos como artimanhas
Para podermos nos defender
Da intriga que nós criamos

E já vêm nos oferecer
Um Estado Soberano
Como gostam de se esquecer
Que já começando erramos

Todos sabemos a verdade
Mas os dias se fazem iguais
E para quê mudar tudo
Se podemos viver mais?

Não me tome por descrente
É uma pergunta falaciosa
Daquilo que nos faz parar
Vendo a trajetória perigosa

Sabemos o que é justiça
E sua função para os demais
Mas não sabemos direito
Como é que se faz

Parece arrogância
Mas eu confesso pra você
Eu faço parte desse estrume
Senão preferiria morrer

Quantas dívidas nós temos
Para pesar a consciência?
Ainda nem aprendemos
A pagar a diferença

Sempre aumentamos
Essa divida milenar
E como pedir desculpas
Para alguém que não vai voltar?

O perdão não chega
E a angústia se ascendeu
Em Cristos Redentores
Que o fim já precedeu

O remédio já foi receitado
E que se explodam as facções
Que insistem num passado
De (muito) poucas conspirações

O medo de toda essa cura
É a desordem total
De ver o seu dinheiro
Num outro capital

E que se faça Supremacia
E que se Lute por ela
Que se distingua os que vão crescer
E que, salvem-se as Cinderelas

Quem sabe um dia
Tiraremos o atraso
Alimentando as ilusões
Mandando o resto pro vaso

E nesse dia então
Não vamos sentir solidão
Diremos onde está a alma
Por quê o corpo está no chão.



Loren Borges

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Eu e os outros, continuo eu

Quero a recompensa II

Por mais que eu saiba que o que eu vejo lá no céu
são só compostos químicos e poeiras a vagar,
meus olhos podem até se encher de lágrimas.
Eu sempre irei me vislumbrar.
Diante de um abismo tudo fica mais confuso,
não se vêem barreiras para o absurdo
e pelos olhares serem certos e obtusos
são instituídos brasões em todos os escudos.



Ninguém quer morrer para ser escutado
e nem viver uma vida inteira enterrado
em peles que nunca conseguem
chegar perto daquilo que todos tem passado.
Quando nós envelhecermos e na escala voltarmos ao dó
talvez mostremos o mínimo da dor,
que escondemos com todas as nossas forças,
dor que pode ser o que temos de melhor.


Numa lei de causa e efeito,
as mazelas de outros são a nossa promoção.
A anestesia precisa mesmo ser forte.
O peso da culpa nem abala o suporte.
A cede de justiça não consegue mudar a ciência
e nossa lei é a da ação e não reação.
Com os olhos apontados pro chão
e a ignorância para o Norte.


Então corremos contra o tempo
pois nesse mundo não há descanso.
Sempre levando porrada da vida,
mas sempre com um olhar manso.
Cativos com fome de mudanças,
se dispõem a dividir um mesmo sonho
de enriquecerem-se com a luta.
Sonhos de crianças.




2009
Loren Borges


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Quero a recompensa I


Por mais que eu saiba que o que eu vejo lá no céu
são só compostos químicos e poeiras a vagar,
meus olhos podem até se encher de lágrimas.
Eu sempre irei me vislumbrar.
Diante de um abismo tudo fica mais confuso,
não se vêem barreiras para o absurdo
e pelos olhares serem certos e obtusos
são instituídos brasões em todos os escudos.
Ninguém quer morrer para ser escutado
e nem viver uma vida inteira enterrado
em peles que nunca conseguem
chegar perto daquilo que todos tem passado.
Quando nós envelhecermos e na escala voltarmos ao dó
talvez mostremos o mínimo da dor,
que escondemos com todas as nossas forças,
dor que pode ser o que temos de melhor.
Numa lei de causa e efeito,
as mazelas de outros são a nossa promoção.
A anestesia precisa mesmo ser forte.
O peso da culpa nem abala o suporte.
Muitas vezes pode parecer malevolência
Mas é preciso aprender com as próprias mãos
À conseguir vencer o medo de todos.

Então é melhor correr...
Não foi só em você
Que o mundo não parou para te deixar descansar
Que quis fumar sua razão
Devolver para o Ar
Escapelar sua alma, separar do seu corpo
Com unhas metálicas
Te transformar em um porco
Numa máquina triste
Te deram uma inteligência artificial
Não importam se você existe
E é por isso que você sempre passa mal.
Por mais que eu saiba que deus não está lá
Ainda sim eu rezo
Não sei por que peço, nem sei o que quero
Não sei por que eu espero.
Se me derem uma brecha pra respirar
Eu me desespero
Eu caio, eu berro.
Só assim sei que eu não sou ninguém.
Às vezes tenho a certeza de que tudo na Terra
Faz parte de um único ser
Um Ser que nunca se encontra
Um Ser que nunca se gera.
Queria que todos fossem felizes durante toda a vida
Só assim a Felicidade seria verdadeira
Mas se isso não é possível
Que pelo menos aja uma felicidade derradeira.
Por mais que eu acredite que foi por acaso
Sempre vou colocar mil missões à cumprir.
Vou tentar seguir a idéia do plano que não existe.
Vou querer poderes pra me suprir.
Enfim, serei igual a todos
Quero ser forte para destruir o tirano.
Vou dizer que não preciso de ninguém,
Vou chorar no colo de quem amo.


Loren Borges
2005